A palavra crase, de origem grega,
significa “mistura”, “fusão”, ou seja, a união íntima de dois elementos. Em
gramática, usa-se o vocábulo crase para indicar o fato fonético
de duas vogais iguais se fundirem, unirem-se numa só.
É um fenômeno bastante comum na fala, como se pode
comprovar com alguns exemplos. Em grupos de palavras como Dona Ana (pronunciado
Donana) e minha alma (pronunciado minhalma), o “a” final de Dona
e de minha se fundem, por uma crase, com o a
inicial de Ana e de Alma.
O mesmo fenômeno pode ocorrer dentro de um
vocábulo, como na palavra caatinga (que designa um tipo de vegetação próprio do
Nordeste) pronunciado catinga, em que os dois “aa” das primeiras sílabas se
fundiram num só.
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I Parte
1. Casos em que ocorre a Crase
1.1 Encontro da preposição “a” com o “a” inicial dos
demonstrativos aquele(s), aquela(s), aquilo(s).
Encaminhe-se àquele balcão. (a+aquele)
A impaciência levou-o àquela atitude extrema. (a+aquela)
Não dê atenção àquilo. (a+aquilo)
Limitou-se àquelas compras. (a+aquelas)
O juiz despachou favoravelmente àqueles acusados. (a+aqueles)
1.2 Encontro
da preposição “a” com o artigo definido feminino “a (s).” Quando numa frase se
encontram juntos a preposição “a” (pedida por um verbo, um nome ou advérbio) e
o artigo “a” ou “as” (pedido por um substantivo feminino), os dois “aa”, por
uma crase, se fundem num só, que se escreve “à” ou “às.”
O homem já foi à lua. (O verbo “ir” pede preposição “a”; o nome “lua” pede
artigo “a.” (O homem já foi ao pólo.)
É imensa a distância do sol à terra. (O substantivo “distância” pede as
preposições “de”, que marca o início, e “a” que marca o término.
(É imensa a distância da terra ao sol.)
Mantenha o amor à Pátria e o respeito às tradições. (Os substantivos “amor”
e “respeito” pedem preposição “a”; os nomes “pátria” e “tradições” pedem o
artigo “a” e “as.”
(Mantenha o amor ao Brasil e o respeito aos costumes.)
O árbitro decidiu contrariamente à seleção do Brasil. (O advérbio
“contrariamente” pede preposição “a”; o substantivo “seleção” pede artigo “a”.
(O árbitro decidiu contrariamente ao time do Brasil.)
1.3 Quando numa frase se encontram a preposição “a” e
o pronome demonstrativo feminino “a” ou “as,” os dois “a+a” se fundem num só
acontecendo a crase.
Minha sorte está ligada à do meu país.
(compare: Meu destino está ligado ao do meu país. Depois do “à”
subentende-se “sorte.”)
Os países da América Latina têm condições semelhantes às dos africanos.
(Compare: Os países da América Latina têm caracteres semelhantes aos dos
africanos.)
1.4 Diante de pronomes relativos: ocorrerá
crase com os pronomes relativos “a qual, as quais”, quando esses
pronomes vierem precedidos de uma preposição “a”, exigida por um termo da
oração que tais pronomes introduzem.
A cidade à qual iremos é linda!
As praias, às quais iremos visitar, são visitadas por turistas.
Usa-se crase nas locuções abaixo:
Deve-se recomendar o uso do acento no “a” em locuções (adverbiais, prepositivas, conjuncionais),
como as seguintes:
à baila, à beça, à beira de, à boca pequena (em voz baixa, em segredo), à
cata de, à chave, à conta de, à cunha (muito cheio de gente), à deriva (sem
rumo), à direita, à distância (quando a distância é determinada), à escuta, à
espreita, à esquerda, à excessão de, à falta de, à farta, à feição de, à fina força,
à flor de (à superfície de), à fome (de fome, mas pela fome, com artigo), à
força (de), à francesa, à frente (de), à fresca, à gandaia (sem destino), à
garra (à deriva), à grande (à larga), à guisa de (à maneira de), à imitação de,
à larga, à luz (dar à luz = ter um filho), à mão, à maneira de, à matroca (sem
rumo), à medida que, à mercê de, à mingua (em penúria, na miséria), à míngua de
(à falta de), à minuta, à moda (de), à noite (de noite, mas pela noite, com
artigo), à paisana, à parte, à pressa, à primeira vista, à porfia (em disputa),
à procura de, à proporção que, à puridade (em particular, em segredo), à
queima-roupa, à revelia, à risca, à roda (de), à saciedade (até mais não
poder), à semelhança de, à socapa (disfarçadamente), à solta, à sorrelfa
(furtivamente), à sorte, à tarde, à toa, à toda, à tona, à traição, à tripa
forra (à larga, em grande quantidade), à última hora, à uma (unanimemente,
conjuntamente), à unha, à vaca fria, à ventura, à vista (de), à viva força, à
volta de, à vontade, às apalpadelas, às avessas, às boas, às carreiras, às
cegas, às claras, às direitas, às escondidas, às furtadelas, às moscas, às
ocultas, às ordens, às tontas, às turras.
Observação: cuidado para não confundir: às vezes
(=por vezes, algumas vezes). Não confunda com “fazer as vezes
de”, que significa “desempenhar as funções de”, nesse caso não acontece crase.
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II
Parte
2.
Contradições entre alguns gramáticos
(abordado por Adriano da
Gama Kury. Ortografia e Gramática. Rio de Janeiro: FENAME, 1982.)
Muitos gramáticos, sem levar em conta o uso bastante generalizado, querem
que a locução à distância, quando indeterminada, se
escreva sem acento; este só caberia, a seu ver, quando a locução viesse
determinada. Exemplo: “à distância de um metro”, ou, como escreveu Machado de
Assis, “à distância de um fio de cambraia” (Brás Cubas, cap. CIII).
Não tem fundamento essa distinção. Esquecem esses gramáticos que à
distância
equivale a “na distância” (onde aparecem preposição e
artigo):
“Um relógio, NA distância, bateu dez horas.”
(Afonso Schmidt, Aventuras de Indalécio, São Paulo, Clube do Livro,
1951, p. 141.)
“Uma torre branca e aguda apontou NA distância, furando o céu.”
(Id., Bom Tempo, São Paulo, Clube do Livro, 1956, p. 73.)
“O pai manda um grito/ Tão Na distância, tão longe,/ Que o corpo do
mundo treme.”
(Murilo Mendes, “O Concerto”.)
“Era uma planície sem fim, com o céu ao fundo ... E ao longe ... a cidade
se esfumava NA distância.” (Branquinho da Fonseca, Rio Turvo, 2° ed., Lisboa,
Portugália Ed., 1963, p. 10.) [Nesta passagem se encontram dois exemplos de
locuções semelhantes, com substantivos masculinos, em que aparecem a
preposição a e o artigo o: AO fundo e
AO longe.]
Vejam-se alguns exemplos, em bons escritores, de à distância:
De Rui Barbosa:
“Destes cimos, ... : – o Colégio Anchieta nos estende A distância
os braços.”
(Discurso no Colégio Anchieta, Rio, 1953, p. 7.)
“Achava-se ali A distância, um amigo, que me aguardava.”
(Queda do Império, vol. I, Rio, 1921, p. LXX.)
“Mais fácil é sempre um não A distância que rosto a rosto.”
(Ib., p. LXXIL)
De Mário Barreto:
“A metátese... é em
geral provocada por uma atração à distância.”
(Novíssimos Estudos da
Língua Portuguesa, 2+ ed., Rio, Livr. Francisco Alves, p 47.)
De Raul
Pompéia:
“À distância, viam-se as
janelas de uma parte da casa.”
(O Ateneu, 4+ ed., Rio,
Livr. Francisco Alves, p. 49.)
De
Gilberto Amado:
“Vultos desenhavam-se à
distância, fazendo-me estremecer.”
(História da Minha
Infância, Rio, Livr. José Olympio, 1958, p. 206.)
De Ciro dos Anjos:
“Camaradas
vigiam à distância.”
(Montanha,
Rio, Livr. José Olympio, 1956, p. 28.)
“Relampagueiam faróis de carros da comitiva, que
se conservam à distância, por causa do pó.”.
(Ib., p. 275.)
De
Guimarães Rosa:
“E o povo encheu a rua,
à distância, para ver.”
(Sagarana, 4+ ed., Rio,
Livr. José Olympio, 1956, p. 373.)
De José
Cardoso Píres (português):
“À distância, o pescador
em viagem julgou tratar-se de algum cadáver sobrevoado por pássaros vorazes.”
(Jogos de Azar, 2ª ed.,
Lisboa, Ulisseia, 1966, p. 9.)
“Mal o
reconheceram à distância.”
(Ib.,
p. 198.)
III Parte
3. Casos
em que não se acentua o “a”
Já vimos de início que, pela própria natureza da crase, que é uma
contração, uma fusão de dois “aa”, o primeiro sempre a preposição a,
e o segundc artigo ou o pronome demonstrativo a, as - é
impossível a sua ocorrência, portanto o acento no a, caso se use apenas a
preposição a, ou o artigo (ou o demonstrativo) a, as.
3.1 Não
se acentua o a antes de substantivos masculinos (não
se pode usar o artigo feminino junto de nomes masculinos; portanto, o a que
antecede esses nomes será sempre a preposição simples). Exemplos:
Pede a Deus que te
proteja. - Percorri o Brasil de norte a sul. - A custo pronunciou algumas
palavras. – Assinou o documento a rogo do interessado. - Andou de Herodes a
Pilatos. - Houve em 1980 numerosas homenagens a Camões. - Ando mais a pé de que
a cavalo. - Trabalhava de sol a sol. - caminhões a frete; entregas a domicílio;
lavagem a seco; a torto e a direito; vendas a prazo; escrever a lápis; movido a
álcool; pau a pique; a pedido; a salvo; a propósito; a sangue-frio; a tiracolo;
a granel; a varejo.
Observação:Convém não esquecer os casos em que existe um substantivo feminino
subentendido, ocasião única em que pode ocorrer acento no a antes
de nomes masculinos. Os substantivos femininos que costumam vir subentendidos
são:
a) maneira, moda:
“Comi um filé à Rossini; ele preferiu a sopa à Leão Veloso.”
(= à moda de Rossini, à moda de Leão Veloso.)
“Estilo à Rui Barbosa.”
(= à maneira de Rui Barbosa.)
“Usa saltos à Luís XV.”
(= à moda de Luís XV.)
Lembremos , de
passagem, serem comuns
expressões como à mineira, à francesa, à bolonhesa, à
camponesa, formadas de adjetivos antes dos quais se sebentende o
substantivo “moda.”
b) faculdade, universidade, escola, companhia, empresa e análagos:
Preferiu a Faculdade de Letras à Hélio Alonso.
O governo não fez novas concessões à Ford.
3.2 Não se acentua o “a” que antecede os infinitivos de verbos (não sendo o verbo um nome feminino, nunca vem precedido de artigo “a,”
por conseguinte, o “a” que ocorre antes de um infinitivo é sempre
preposição simples). Exemplos:
Começou a chover. – Nada tens a temer. – Pôs-se a rir. – preços a combinar.
– Tornou a sair.
3.3 Não
se acentua o “a” (preposição) antes do artigo indefinido uma, pois é impossível, junto a este, a ocorrência simultânea do artigo
definido a:
“Foi submetido A uma
intervenção cirúrgica.”
(Compare: “Foi submetido
A um exame clínico.”)
“O prêmio coube A uma
aluna de Português.”
(Compare:... A um aluno...)
3.4 Não
se acentua o” “a antes dos pronomes que não podem vir precedidos do artigo a:
a) pessoais:
a mim, a ti, a si, a ela, a nós, a vós, a elas;
b) de tratamento (você, Vossa Senhoria, Vossa Excelência, Vossa
Majestade, Sua Senhoria, Sua Excelência, Sua Santidade e análogos
[parecidos]):’
“Comunico a V.Sª que se esgota amanhã o prazo concedido.” “Ofereceram uma
lembrança a S. Exª”
“Todos prestaram homenagem a Sua Santidade.”
Observação: o pronome de tratamento a senhora (e plural as senhoras) já traz
incorporado um “a”, que naturalmente pode contrair-se com a preposição “a”
que o antecede:
“Desejo felicidade à
senhora.” (Compare: ... ao senhor.)
“Agradeço às senhoras a
lembrança, que me oferecem.” (Compare: ... aos senhores...)
c) Pronomes indefinidos:
(alguma(s), nenhuma(s),
cada, certa(s), determinada(s), pouca(s), quanta(s), tal, tamanha(s), tanta, toda(s), uma(s), muita(s), outra(s),
várias, qualquer, quaisquer, alguém, ninguém):
“Coube um livro A
cada uma, uma caneta A algumas delas, e Acerta aluna um prêmio em dinheiro, de
forma que A nenhuma se deixou de oferecer uma lembrança.”
“Sujeitava-se A qualquer
tarefa, A toda sorte de exigências, A quanta
reclamação fizessem, e submetia-se A tal humilhação por vontade própria.”
“Obedecia sempre A determinada
linha de conduta.” “Avistei-o Apouca distância.”
“Não sei como resistiu A tanta provação.”
“Embarcarei daqui Apoucas semanas.” “Dirigiu-se em vão A uma e A outra repartição.”
“Entregava-se A tamanha luta por amor da família.” “Vi-o faiando A alguém, mas
não disse nada A ninguém.” “Dava crédito A muita bobagem que ouvia.”
“Foi submetido
A várias
provas.”
Equipara-se a um indefinido o adjetivo meia, em expressões como a meia altura,
a meia luz,
a meia voz.
Observação: acentua-se o “a” na locução à uma, que significa “em conjunto”,
“simultaneamente”:
“Todos à uma se levantaram e comemoraram o gol da vitória.”
Todos gritaram à uma só voz.
Observação: como numeral, uma admite a crase:
“À uma hora serviu-se o almoço.” (Compare: Ao meio-dia, às duas horas.)
Observação: em certas ocasiões, alguns indefinidos - tal, tais, mesma(s), muitas,
outra(s), pouca(s) - podem vir determinados pelo artigo definido feminino a,
as, o que provocará a crase, no caso de haver encontro com a preposição a. Fazendo-se
a substituição do substantivo feminino que os segue por outro masculino de
sentido semelhante, comprova-se a existência da preposição a e do artigo a:
“Encontraram uma límpida fonte; paralelos A mesma, arbustos floridos davam
singular encanto ao local.” (Compare: “Encontraram um límpido riacho; paralelos
no mesmo, ... )
“Havia muitas opiniões contrárias umas As
outras.” (Compare:... conceitos contrários uns nos outros.)
“Dirigiu palavras de
incentivo As muitas peregrinas que a ele acorriam.” (Compare:... AOS muitos peregrinos... )
“Deu conselhos valiosos Às poucas pessoas que foram ouvi-lo.” (Compare:... AOS POUCOS fiéis... )
“Acabou aderindo As tais
festanças.” (Compare: ... AOS tais
festejos.)
“Nunca se acostumou A tal semana inglesa.” (Compare: ... AO tal almoço ajantarado.)
“Sua reprovação foi
devida A pouca sorte que teve no tema sorteado.” (Compare: ... AO pouco tempo que teve para preparar-se.)
d) demonstrativos esta(s), essa(s):
“Aferrava-se ora A esta,
ora àquela opinião.”
“SÓ recorrerei
A essa alternativa em último recurso.”
e) relativos cuja(s), quem:
“Chegaram a uma árvore frondosa, Acu¡a sombra descansaram.” “A única pessoa
A quem obedecia era a mãe.”
Observação: antes do relativo que só se acentua o “a” quando se
subentende um substantivo feminino: “Não respondeu às primeiras perguntas, mas
só à que lhe interessava.” (Antes do que subentende-se pergunta. Houve crase da
preposição a com o pronome demonstrativo a. Compare: “Não respondeu aos
primeiros quesitos, mas só ao que lhe interessava.”)
Fora destes casos, não se acentua o a antes do relativo que, porquanto é
preposição simples. Exemplos:
“Era uma afeição a que
correspondia. - Não gostei da peça a que
assisti. - Não examinou o programa do partido a que se filiou. - Parece falsa essa hipótese a que você tanto
se apega.
- É dura a tarefa a que me aplico agora.
3.5 Não se acentua um “a” sozinho que antecede palavra no plural (se houvesse artigo feminino plural, seria “as”, com “s”). Exemplos:
“Não respondo A perguntas tolas.”
(Compare: “Respondeu As perguntas formuladas.”)
“Nossa liberdade está sempre sujeita A restrições.”
(Compare: “Nossa liberdade está sujeita às restrições da lei.”)
“Não dava importância A glórias nem A honrarias.” (Compare:
..: às glórias nem às honrarias humanas.)
3.6 Não
se acentua o a (que é artigo definido) que se segue a preposições (ante, após, com, conforme, contra, desde, durante, entre, mediante, para,
perante, sob, sobre, segundo). Exemplos:
Sua atitude perante a autoridade policial foi bem diferente da
que teve perante a Civil. Não adianta remar contra a maré. - Protegeu-se sob a marquise. Fugiu ante a aproximação dele. - Após a prova, seus nervos relaxaram. - Costumava
ler passagens do Evangelho durante as refeições. - Esperava-o desde as
11 horas.
3.7 Não
se acentua o a que precede substantivos femininos tomados em sentido geral, indeterminado, e que, portanto, repelem o artigo definido. Muitas vezes,
por elegância de estilo, suprime-se o artigo indefinido uma que poderia figurar
antes do substantivo feminino, frequentemente antecedido de adjetivo:
“Foi submetido a operação muito delicada.” (- A uma operação.)
“O Governo está procedendo a proveitosa desburocratização.” (= A uma proveitosa.)
3.8 Não
se acentua o “a” antes de numerais cardinais: “De 15 a 20 deste mês.” - “De 1980 a 1982.”
IV Parte
4. Casos Especiais
Os nomes próprios de
lugar ora são determinados pelo artigo, ora não 0 admitem. Vejam-se estes
exemplos:
a) Com artigo:
a América, a Europa, a África, a França, a Itália,
a Argentina, o Peru, as Antilhas, as Filipinas, a China, o Japão; a Bahia, o
Acre, o Pará; a Gávea, a Penha, o Leblon.
b) Sem artigo:
Portugal, Mônaco, Honduras, Cuba; Paris, Roma,
Atenas; Alagoas, Sergipe, Minas Gerais; Curitiba, São Paulo, Brasília,
Fortaleza, Natal; Copacabana, Ipanema.
Já sabemos que só é possível a crase da preposição a com
outro a, artigo (ou demonstrativo). É evidente, portanto, que,
neste caso, só poderá ocorrer crase se vier a preposição a
seguida de um nome próprio de lugar feminino que admita o artigo a.
E a forma prática de verificar essa
possibilidade consiste em formular, com o topônimo que se está usando, outra
frase com uma das preposições com, de, em, por, para. Se, nessa
frase, aparecerem apenas as preposições, é sinal de que o nome de lugar em
causa não admite o artigo, e portanto não haverá crase; se, porém, surgirem as
combinações ou contrações com a(s), da(s), na(s), pela(s), para a(s),
é sinal de que há preposição e artigo feminino: caso típico de crase,
portanto. Exemplifiquemos:
Imaginenos que a dúvida esteja na frase:
“Quem tem boca vai ... Roma.” (a ou à?)
usando-se a preposição
para teríamos:
“Quem tem boca vai PARA
Roma.”
Com outras preposições: vir DE Roma, estar EM Roma, passar POR Roma.
Sem artigo, e portanto não existe
crase: a Roma.
Outro exemplo:
“Espero voltar .... Brasília este ano.” (a ou à?)
Fazendo-se uma substituição:
“Espero passar POR Brasília este ano.”
Com outras preposições: vir DE Brasília, estar EM Brasília, voltar PARA
Brasília. Não se usou artigo, logo não há crase: a Brasília...
Mais um exemplo:
“Você já foi .... Bahia?” (a ou à?)
Fazendo-se a substituição:
“Você já esteve NA Bahia?”
Com outras preposições: vir DABahia, passar PELABahia, voltar PARAABahia.
Ocorrem as contrações: na, da, pela (preposição mais artigo). É, pois, o caso
de crase: à Bahía.
E assim:
“Tinha grande apego a Copacabana.”
(Compare: “Tinha grande admiração POR Copacabana.”). Não há crase.
“O Papa regressou à Itália.” (= PARA AItália.). Hexiste crase.
“Chegaremos amanhã à Espanha.” (Compare: “Chegou ontem DA Espanha.”). Hexiste crase.
Bem-vindo à Maringá? Não tem
o acento grave.
Lembrete: Vim da: crase no
"A".
Vim " de": crase
para quê?
Portanto: Bem-vindo à Bahia
(Vim da Bahia);
Bem-vindo a Maringá (Vim de
Maringá).
Tenha sempre em vista, portanto, estas correspondências:
A corresponde a COM, DE, EM, POR, PARA;
A(S) corresponde a COM A(s), DA(S), NA(S), PELA(S), PARA A(S).
Observação: Cumpre lembrar que os mesmos nomes
de lugar que normalmente não admitem artigo (como Roma, Paris, Brasília, Belém, por exemplo) passam a exigi-lo
quando vêm seguidos de um adjunto limitador, especificativo:
a Roma do Coliseu;
a Paris do após-guerra;
a Brasília de Niemeyer;
a Belém das mangueiras.
Nesse caso haverá crase,
quando precedidos da preposição a. Exemplos:
O navio chegou a Belém.
Não há crase. Existem as preposições, mas não aparecem os
artigos. Compare: Vir DE Belém. Estar EM Belém. Passar POR
Belém. Voltar PARA Belém.
O navio
chegou à Belém das mangueiras.
Há crase, pois vem seguido de um adjunto
limitador, especificativo.
Não
sei quando voltarei a Brasília.
Não há crase. Existem as preposições, mas não aparecem os
artigos. Compare: Vir DE Brasília. Estar EM Brasília. Passar POR
Brasília. Voltar PARA Brasília.
Não sei quando voltarei à Brasília de Nierneyer.
Há
crase, pois vem seguido de um adjunto limitador, especificativo.
Fizemos
uma visita a Paris.
Não há crase. Existem as preposições, mas não aparecem os
artigos. Compare: Vir DE Paris. Estar EM Paris. Passar POR
Paris. Voltar PARA Paris.
Fizemos uma visita à Paris do após-guerra.
Há
crase, pois vem seguido de um adjunto limitador, especificativo.
A palavra casa é precedida de artigo quando significa “edifício”, “prédio”,
“estabelecimento comercial”, “dinastia”, ou quando se refere a qualquer instituição
ou sociedade. Exemplos:
Mudou-se dA casa velha. - Passou pelA casa da mãe.
- Trabalho nA Casa de Rui Barbosa. - D. Pedro II pertencia À Casa de Bragança.
Quando, porém, tem a
acepção de “lar”, “morada”, e não vem acompanhada de algum termo restritivo ou
modificador, a palavra casa não é antecedida de artigo. Exemplos:
Saí DE
casa cedo- Ontem não dormi EM casa. – Volte logo PARA casa.
É compreensível, pois, que, não sendo determinada pelo artigo a,
a palavra casa, nesta significação, não admita crase:
“De regresso A casa, foi recebido em festa.”
“Fui a, casa apanhar os documentos do carro.”
Observação:
Mesmo na acepção de “lar,” a palavra casa, quando seguida
de um adjunto de posse, pode vir precedida de artigo:
Estive na (ou em) casa
de João.
Disso resulta que, se
vier da preposição a, a palavra casa, nesse caso, admite crase:
Irei à (ou a) casa de João.
4.3 A crase antes da palavra TERRA
A palavra terra, na maioria das suas acepções, pode vir precedida artigo a,
que se craseia com a preposição a. Exemplos:
Voltou
à terra onde nascera. - O agricultor tem apego à terra. - Do céu à terra.
Quando,
porém, se opõe a bordo é
indeterminada, sem artigo, e portanto não admite crase:
“Logo
que o navio aportou, os marinheiros desceram a terra.”
“Está
muito abafado a bordo: vamos a terra.”
4.4 A crase depois da locução prepositiva ATÉ A
A preposição até possui como variante a locução até a, e o
emprego de ambas, em muitos casos, é opinativo, ao gosto de cada um. Disso
resulta que, quando seguidas dos artigos a, as, ou dos
demonstrativos aquele (s), aquela, aquilo,
pode ou não haver crase, conforme se use a forma simples até ou a
locução até a:
“Leu o artigo até A (ou: até à) última frase.” [Compare: .... até o (ou:
< Ao) último parágrafo.]
“Ficou no escritório até A (ou:
até à) meia-noite.” [Compare: .... até o (ou até Ao) meio-dia.]
“Levou a questão até As (ou: até às) últimas conseqüências.” [Compa ... até
os (ou: até Aos) últimos resultados.]
“Chegue até aquela (ou: àquela)
janela.” [Compare:.. . . até o (ou: até ao portão.]
Obsevação: Diferente é o caso de até com a significação de “mesmo”, “até mesmo,” não
sendo, ne caso, preposição, não possui a variante até a, e então a ocorrência
de crase não depende dessa palavra e
sim de algum dos outros fatores que temos examinado:
“Estudava até as línguas da Índia antiga.” (Compare:
Estudava até os dialetos ... )
“Obedecia até às ordens
mais absurdas.” (Compare: ... até nos caprichos mais absurdos.)
CRASE COM NÚMEROS
Lombada a100 metros
ou Lombada à 100 metros ?
Ocorre crase antes de número?
Lombada a
A rigor não. A forma correta, no seu exemplo, é a
primeira, porque o a que se encontra na frente do número é uma simples
preposição.
O que pode ocorrer é você
visualizar crase – correta – diante de um numeral em casos como estes:
“Li da página 1 à 10” . (Está se referindo à página, que
é feminino. Entende-se “da página 1 à página 10” .)
Caminhou da rua Augusta à
7 de Setembro.
(Está se referindo à rua, que é feminino. Entende-se “da rua Augusta à rua 7 de
Setembro.)
Observação: Na verdade o a
craseado se refere aí a um substantivo feminino subentendido, que não se repete
por questão de estilo:
Li da página 1 à página 10.
Caminhou da rua Augusta à rua 7 de Setembro.
A
palavra ‘crase’ vem do grego e quer dizer ‘fusão, mistura, união’; no caso,
designa a fusão da preposição a com o artigo a - ou
com o a inicial de aquela/ aquele/ aquilo. Portanto, só se usa à
diante de palavras femininas que admitam o artigo definido feminino.
Além
do fato de numeral cardinal não ter gênero (exceto um, dois e os
terminados em -entos: uma, duas, duzentas etc.), ele não admite a
anteposição de artigo. Conseqüentemente, nada de crase com números.
Vale
lembrar que na frase “chegou às 10 horas” o às se refere ao subst. fem. horas,
embora esteja imediatamente antes do numeral.
De1 a
10 / de segunda a sexta / da 1ª à 4ª
Uma quadrinha simples torna mais fácil memorizar outro caso de crase que envolve números:
De
Uma quadrinha simples torna mais fácil memorizar outro caso de crase que envolve números:
DO ou DA com À -
crase há. Se vai DE - crase pra quê?
Este
recurso se aplica tanto a números quanto a substantivos: quando se faz uso de
dois desses elementos ligando-os por de + a, não se deve crasear o
segundo elemento; mas quando se define o primeiro elemento com da
ou do + a, o segundo inicia com à (ou ao, se masculino). É uma
questão de coerência. Havendo determinação no 1º substantivo ou numeral
ordinal, deve haver no segundo. O que não pode acontecer é a mistura, por
exemplo: * de 2ª à 6ª (neste exemplo não ocorre crase).
Modelos bons:
- Trabalhamos de 3ª a sábado. (de+a=crase pra quê?)
- A exposição ficará aberta ao público de hoje a domingo. (de+a=crase pra quê?)
- Ainda há vagas para alunos de 5ª a 8ª série. (de+a=crase pra quê?)
- Só sabe contar de1 a
100. (de+a=crase pra quê?)
- Os eletrodomésticos estão em todas as casas, de norte a sul do país. (de+a=crase pra quê?)
- As inscrições poderão ser feitas de 1° de maio a 15 de junho. (de+a=crase pra quê?)
- Trabalhamos de 3ª a sábado. (de+a=crase pra quê?)
- A exposição ficará aberta ao público de hoje a domingo. (de+a=crase pra quê?)
- Ainda há vagas para alunos de 5ª a 8ª série. (de+a=crase pra quê?)
- Só sabe contar de
- Os eletrodomésticos estão em todas as casas, de norte a sul do país. (de+a=crase pra quê?)
- As inscrições poderão ser feitas de 1° de maio a 15 de junho. (de+a=crase pra quê?)
- Todas as alunas da 1ª à 4ª série foram
dispensadas. (da+à=crase há)
- Molhou-se dos pés à cabeça. (do+à=crase há)
- A ceia será servida da meia-noite à uma hora. (da+à=crase há)
- Trabalho desta segunda à quinta-feira próxima. (de+esta=desta+à=crase há)
- O jantar estava perfeito da entrada à sobremesa. (de+esta=desta+à=crase há)
- Tudo subiu – da mensalidade escolar à consulta médica. (da+à=crase há)
- Aqui tudo é caro - do aparelho de som à geladeira. (do+à=crase há)
- Molhou-se dos pés à cabeça. (do+à=crase há)
- A ceia será servida da meia-noite à uma hora. (da+à=crase há)
- Trabalho desta segunda à quinta-feira próxima. (de+esta=desta+à=crase há)
- O jantar estava perfeito da entrada à sobremesa. (de+esta=desta+à=crase há)
- Tudo subiu – da mensalidade escolar à consulta médica. (da+à=crase há)
- Aqui tudo é caro - do aparelho de som à geladeira. (do+à=crase há)
V Parte
5.
Breve Resumo Sobre Crase
5.1
Pode-se determinar a necessidade de usar
a crase, quando operamos da seguinte forma:
a) Substituímos a
palavra feminina localizada após à por
uma equivalente masculina.
b) Substituímos o “a”
por “ao”. Caso a nova construção, admissível, comprova-se a necessidade do
acento grave ( ` ) indicador de crase. Exemplo:
“Iremos à praia
domingo.” Há crase? Não há? Para tirar a dúvida, basta seguir os passos acima:
“Iremos ao campo
domingo.” Como a nova oração está
correta, percebemos que acontece a
crase. Logo, oração correta é “Iremos à praia domingo.”
5.2 Acontece a crase nos seguintes casos:
a) Antes de numerais que
indicam horas (“Saiu às duas horas”).
b) Antes de locuções
adverbiais, prepositivas ou conjuntivas femininas (à tarde, à direita, à toa, à
revelia, às escondidas, às vezes, à
proporção que etc.).
c) Quando as palavras
“moda” ou “maneira” estiverem subentendidas (“Pediu um filé à Oswaldo Aranha”).
5.3 Não acontece crase nos seguintes casos:
a)
Diante de palavras masculinas (“Passeio a cavalo”).
b) Diante de verbos
(“Ficou a ver navios-).
c) Antes da maior parte
dos pronomes.
d) Antes de palavras
femininas no plural (“Referiu-se a cronistas de moda”).
e) Nas expressões
pareadas (uma a uma, par a par, pouco a pouco etc.).
f) Antes de numerais em
que a preposição “a” significa até (“De hoje a 5 de março”).
g) Entre números. João
contou de 100 a
300 tijólos.
5.4 Casos em que a crase é facultativa:
a) Diante de nomes próprios femininos.
b) Depois da preposição “até”.
c) Antes de pronomes
possessivos femininos (minha, tua, sua, nossa, vossa)
Voltei este ano à (ou a) minha terra.
Prestava atenção à (ou a) sua voz.
5.5 Casos Especiais:
Além dos casos enumerados, vale atentar para as palavras “casa”, “terra”
a) Casa: indeterminada,
não há crase (“Retomo sempre tarde a casa”);
determinada, acontece
crase (“Vou à casa de minha mãe’).
b)
Terra: Não craseamos quando estiver em oposição a “estar a bordo”
(“Os marinheiros regressaram a terra firme”). Nos demais
casos, acontece a crase.
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