terça-feira, 17 de setembro de 2013

CRASE








Crase

A palavra crase, de origem grega, significa “mistura”, “fusão”, ou seja, a união íntima de dois elementos. Em gramática, usa-se o vocábulo crase para indicar o fato fonético de duas vogais iguais se fundirem, unirem-se numa só.
É um fenômeno bastante comum na fala, como se pode comprovar com alguns exemplos. Em grupos de palavras como Dona Ana (pronunciado Donana) e minha alma (pronunciado minhalma), o “a” final de Dona e de minha se fundem, por uma crase, com o a inicial de Ana e de Alma.
O mesmo fenômeno pode ocorrer dentro de um vocábulo, como na palavra caatinga (que designa um tipo de vegetação próprio do Nordeste) pronun­ciado catinga, em que os dois “aa” das primeiras sílabas se fundiram num só.

Clicar, abaixo, em "MAIS INFORMAÇÕES" para continuar lendo.


I Parte
1. Casos em que ocorre a Crase

1.1 Encontro da preposição “a” com o “a” inicial dos demonstrativos aquele(s), aquela(s), aquilo(s).
Encaminhe-se àquele balcão. (a+aquele)
A impaciência levou-o àquela atitude extrema. (a+aquela)
Não dê atenção àquilo. (a+aquilo)
Limitou-se àquelas compras. (a+aquelas)
O juiz despachou favoravelmente àqueles acusados. (a+aqueles)

1.2  Encontro da preposição “a” com o artigo definido feminino “a (s).” Quando numa frase se encontram juntos a preposição “a” (pedida por um verbo, um nome ou advérbio) e o artigo “a” ou “as” (pedido por um substantivo feminino), os dois “aa”, por uma crase, se fundem num só, que se escreve “à” ou “às.”
O homem já foi à lua. (O verbo “ir” pede preposição “a”; o nome “lua” pede artigo “a.” (O homem já foi ao pólo.)
É imensa a distância do sol à terra. (O substantivo “distância” pede as preposições “de”, que marca o início, e “a” que marca o término.
(É imensa a distância da terra ao sol.)
Mantenha o amor à Pátria e o respeito às tradições. (Os substantivos “amor” e “respeito” pedem preposição “a”; os nomes “pátria” e “tradições” pedem o artigo “a” e “as.”
(Mantenha o amor ao Brasil e o respeito aos costumes.)
O árbitro decidiu contrariamente à seleção do Brasil. (O advérbio “contrariamente” pede preposição “a”; o substantivo “seleção” pede artigo “a”.
(O árbitro decidiu contrariamente ao time do Brasil.)

1.3 Quando numa frase se encontram a preposição “a” e o pronome demonstrativo feminino “a” ou “as,” os dois “a+a” se fundem num só acontecendo a crase.
Minha sorte está ligada à do meu país.
(compare: Meu destino está ligado ao do meu país. Depois do “à” subentende-se  “sorte.”)
Os países da América Latina têm condições semelhantes às dos africanos.
(Compare: Os países da América Latina têm caracteres semelhantes aos dos africanos.)

1.4 Diante de pronomes relativos: ocorrerá crase com os pronomes relativos “a qual, as quais”, quando esses pronomes vierem precedidos de uma preposição “a”, exigida por um termo da oração que tais pronomes introduzem.
A cidade à qual iremos é linda!
As praias, às quais iremos visitar, são visitadas por turistas.

Usa-se crase nas locuções abaixo:
Deve-se recomendar o uso do acento no “a” em locuções  (adverbiais, prepositivas, conjuncionais), como as seguintes:
à baila, à beça, à beira de, à boca pequena (em voz baixa, em segredo), à cata de, à chave, à conta de, à cunha (muito cheio de gente), à deriva (sem rumo), à direita, à distância (quando a distância é determinada), à escuta, à espreita, à esquerda, à excessão de, à falta de, à farta, à feição de, à fina força, à flor de (à superfície de), à fome (de fome, mas pela fome, com artigo), à força (de), à francesa, à frente (de), à fresca, à gandaia (sem destino), à garra (à deriva), à grande (à larga), à guisa de (à maneira de), à imitação de, à larga, à luz (dar à luz = ter um filho), à mão, à maneira de, à matroca (sem rumo), à medida que, à mercê de, à mingua (em penúria, na miséria), à míngua de (à falta de), à minuta, à moda (de), à noite (de noite, mas pela noite, com artigo), à paisana, à parte, à pressa, à primeira vista, à porfia (em disputa), à procura de, à proporção que, à puridade (em particular, em segredo), à queima-roupa, à revelia, à risca, à roda (de), à saciedade (até mais não poder), à semelhança de, à socapa (disfarçadamente), à solta, à sorrelfa (furtivamente), à sorte, à tarde, à toa, à toda, à tona, à traição, à tripa forra (à larga, em grande quantidade), à última hora, à uma (unanimemente, conjuntamente), à unha, à vaca fria, à ventura, à vista (de), à viva força, à volta de, à vontade, às apalpadelas, às avessas, às boas, às carreiras, às cegas, às claras, às direitas, às escondidas, às furtadelas, às moscas, às ocultas, às ordens, às tontas, às turras.

Observação: cuidado para não confundir: às vezes (=por vezes, algumas vezes). Não confunda com “fazer as vezes de”, que significa “desempenhar as funções de”, nesse caso não acontece crase.


CONTINUAÇÃO DO FENÔMENO DA CRASE... Clique em "mais informações"




II Parte
2. Contradições entre alguns gramáticos
(abordado por Adriano da Gama Kury. Ortografia e Gramática. Rio de Janeiro: FENAME, 1982.)

Muitos gramáticos, sem levar em conta o uso bastante generalizado, querem que a locução à distância, quando indeterminada, se escreva sem acento; este só caberia, a seu ver, quando a locução viesse determinada. Exemplo: “à distância de um metro”, ou, como escreveu Machado de Assis, “à distância de um fio de cambraia” (Brás Cubas, cap. CIII).
Não tem fundamento essa distinção. Esquecem esses gramáticos que à distân­cia equivale a “na distância” (onde aparecem preposição e artigo):
“Um relógio, NA distância, bateu dez horas.”
(Afonso Schmidt, Aventuras de Indalécio, São Paulo, Clube do Livro, 1951, p. 141.)
“Uma torre branca e aguda apontou NA distância, furando o céu.”
(Id., Bom Tempo, São Paulo, Clube do Livro, 1956, p. 73.)
“O pai manda um grito/ Tão Na distância, tão longe,/ Que o corpo do mundo treme.”
(Murilo Mendes, “O Concerto”.)
“Era uma planície sem fim, com o céu ao fundo ... E ao longe ... a cidade se esfumava NA distância.” (Branquinho da Fonseca, Rio Turvo, 2° ed., Lisboa, Portugália Ed., 1963, p. 10.) [Nesta passagem se encontram dois exem­plos de locuções semelhantes, com substantivos masculinos, em que apare­cem a preposição a e o artigo o: AO fundo e AO longe.]
Vejam-se alguns exemplos, em bons escritores, de à distância:
De Rui Barbosa:
“Destes cimos, ... : – o Colégio Anchieta nos estende A distância os bra­ços.”
(Discurso no Colégio Anchieta, Rio, 1953, p. 7.)
“Achava-se ali A distância, um amigo, que me aguardava.”
(Queda do Império, vol. I, Rio, 1921, p. LXX.)        
“Mais fácil é sempre um não A distância que rosto a rosto.”
(Ib., p. LXXIL)
De Mário Barreto:
“A metátese... é em geral provocada por uma atração à distância.”
(Novíssimos Estudos da Língua Portuguesa, 2+ ed., Rio, Livr. Francisco Alves, p 47.)
De Raul Pompéia:
“À distância, viam-se as janelas de uma parte da casa.”
(O Ateneu, 4+ ed., Rio, Livr. Francisco Alves, p. 49.)
De Gilberto Amado:
“Vultos desenhavam-se à distância, fazendo-me estremecer.”
(História da Minha Infância, Rio, Livr. José Olympio, 1958, p. 206.)
De Ciro dos Anjos:
“Camaradas vigiam à distância.”
(Montanha, Rio, Livr. José Olympio, 1956, p. 28.)
“Relampagueiam faróis de carros da comitiva, que se conservam à distân­cia, por causa do pó.”.
(Ib., p. 275.)
De Guimarães Rosa:
“E o povo encheu a rua, à distância, para ver.”
(Sagarana, 4+ ed., Rio, Livr. José Olympio, 1956, p. 373.)
De José Cardoso Píres (português):
“À distância, o pescador em viagem julgou tratar-se de algum ca­dáver sobrevoado por pássaros vorazes.”
(Jogos de Azar, 2ª ed., Lisboa, Ulis­seia, 1966, p. 9.)
“Mal o reconheceram à distância.”
(Ib., p. 198.)

III Parte

 

3. Casos em que não se acentua o “a”


Já vimos de início que, pela própria natureza da crase, que é uma contração, uma fusão de dois “aa”, o primeiro sempre a preposição a, e o segundc artigo ou o pronome demonstrativo a, as - é impossível a sua ocorrência, portanto o acento no a, caso se use apenas a preposição a, ou o artigo (ou o demonstrativo) a, as.

3.1 Não se acentua o a antes de substantivos masculinos (não se pode usar o artigo feminino junto de nomes masculinos; portanto, o a que antecede esses nomes será sempre a preposição simples). Exemplos:
Pede a Deus que te proteja. - Percorri o Brasil de norte a sul. - A custo pronunciou algumas palavras. – Assinou o documento a rogo do interessado. - Andou de Herodes a Pilatos. - Houve em 1980 numerosas homenagens a Camões. - Ando mais a pé de que a cavalo. - Trabalhava de sol a sol. - caminhões a frete; entregas a domicílio; lavagem a seco; a torto e a direito; vendas a prazo; escrever a lápis; movido a álcool; pau a pique; a pedido; a salvo; a propósito; a sangue-frio; a tiracolo; a granel; a varejo.

Observação:Convém não esquecer os casos em que existe um substantivo feminino subentendido, ocasião única em que pode ocorrer acento no a antes de nomes masculinos. Os substantivos femininos que costumam vir suben­tendidos são:

a) maneira, moda:

“Comi um filé à Rossini; ele preferiu a sopa à Leão Veloso.”
(= à moda de Rossini, à moda de Leão Veloso.)
“Estilo à Rui Barbosa.”
(= à maneira de Rui Barbosa.)
“Usa saltos à Luís XV.”
(= à moda de Luís XV.)

Lembremos , de  passagem,  serem  comuns  expressões  como  à mineira, à francesa, à bolonhesa, à camponesa, formadas de adjetivos antes dos quais se sebentende o substantivo “moda.”

b) faculdade, universidade, escola, companhia, empresa e análagos:
Preferiu a Faculdade de Letras à Hélio Alonso.
O governo não fez novas concessões à Ford.

3.2 Não se acentua o “a” que antecede os infinitivos de verbos (não sendo o verbo um nome feminino, nunca vem precedido de artigo “a,” por conseguinte, o “a” que ocorre antes de um infinitivo é sempre preposição simples). Exemplos:
Começou a chover. – Nada tens a temer. – Pôs-se a rir. – preços a combinar. – Tornou a sair.

3.3 Não se acentua o “a” (preposição) antes do artigo indefinido uma, pois é impossível, junto a este, a ocorrência simultânea do artigo definido a:
“Foi submetido A uma intervenção cirúrgica.”
(Compare: “Foi submetido A um exame clínico.”)

“O prêmio coube A uma aluna de Português.”
(Compare:... A um alu­no...)

3.4 Não se acentua o” “a antes dos pronomes que não podem vir precedidos do artigo a:

a) pessoais:

a mim, a ti, a si, a ela, a nós, a vós, a elas;

 

b) de tratamento (você, Vossa Senhoria, Vossa Excelência, Vossa Majestade, Sua Senhoria, Sua Excelência, Sua Santidade e análogos [parecidos]):’

“Comunico a V.Sª que se esgota amanhã o prazo concedido.” “Ofereceram uma lembrança a S. Exª”
“Todos prestaram homenagem a Sua Santidade.”
Observação: o pronome de tratamento a senhora (e plural as senhoras) já traz incorporado um “a”, que naturalmente pode contrair-se com a preposição “a” que o antecede:
“Desejo felicidade à senhora.” (Compare: ... ao senhor.)
“Agradeço às senhoras a lembrança, que me oferecem.” (Compare: ... aos senhores...)

c) Pronomes indefinidos: (alguma(s), nenhuma(s), cada, certa(s), determinada(s), pou­ca(s), quanta(s), tal, tamanha(s), tanta, toda(s), uma(s), muita(s), outra(s), várias, qualquer, quaisquer, alguém, ninguém):
“Coube um livro A cada uma, uma caneta A algumas delas, e Acerta aluna um prêmio em dinheiro, de forma que A nenhuma se deixou de oferecer uma lembrança.”
“Sujeitava-se A qualquer tarefa, A toda sorte de exigências, A quanta reclamação fizessem, e submetia-se A tal humilhação por vontade própria.”
“Obedecia sempre A determinada linha de conduta.” “Avistei-o Apouca distância.”
“Não sei como resistiu A tanta provação.” “Embarcarei daqui Apoucas semanas.” “Dirigiu-se em vão A uma e A outra repartição.” “Entregava-se A tamanha luta por amor da família.” “Vi-o faiando A alguém, mas não disse nada A ninguém.” “Dava crédito A muita bobagem que ouvia.”
“Foi submetido A várias provas.”
Equipara-se a um indefinido o adjetivo meia, em expressões como a meia altu­ra, a meia luz, a meia voz.

Observação: acentua-se o “a” na locução à uma, que significa “em conjunto”, “simultaneamente”:
“Todos à uma se levantaram e comemoraram o gol da vitória.”
Todos gritaram à uma só voz.

Observação: como numeral, uma admite a crase:
“À uma hora serviu-se o almoço.” (Compare: Ao meio-dia, às duas horas.)

Observação: em certas ocasiões, alguns indefinidos - tal, tais, mesma(s), muitas, outra(s), pouca(s) - podem vir determinados pelo artigo definido feminino a, as, o que provocará a crase, no caso de haver encontro com a preposição a. Fazendo-se a substituição do substantivo feminino que os segue por outro masculino de sentido semelhante, comprova-se a existência da preposição a e do artigo a:
“Encontraram uma límpida fonte; paralelos A mesma, arbustos floridos davam singular encanto ao local.” (Compare: “Encontraram um límpido riacho; paralelos no mesmo, ... )
“Havia muitas opiniões contrárias umas As outras.” (Compare:... conceitos contrários uns nos outros.)
“Dirigiu palavras de incentivo As muitas peregrinas que a ele acorriam.” (Compare:... AOS muitos peregrinos... )
“Deu conselhos valiosos Às poucas pessoas que foram ouvi-lo.” (Compare:... AOS POUCOS fiéis... )
“Acabou aderindo As tais festanças.” (Compare: ... AOS tais festejos.)
“Nunca se acostumou A tal semana inglesa.” (Compare: ... AO tal almoço ajantarado.)
“Sua reprovação foi devida A pouca sorte que teve no tema sorteado.” (Compare: ... AO pouco tempo que teve para preparar-se.)

d) demonstrativos esta(s), essa(s):

“Aferrava-se ora A esta, ora àquela opinião.”
“SÓ recorrerei A essa alternativa em último recurso.”

e) relativos cuja(s), quem:

“Chegaram a uma árvore frondosa, Acu¡a sombra descansaram.” “A única pessoa A quem obedecia era a mãe.”

Observação: antes do relativo que só se acentua o “a” quando se subentende um substantivo feminino: “Não respondeu às primeiras perguntas, mas só à que lhe interessava.” (Antes do que subentende-se pergunta. Houve crase da preposição a com o pronome demonstrativo a. Compare: “Não respondeu aos primeiros quesitos, mas só ao que lhe interessava.”)
Fora destes casos, não se acentua o a antes do relativo que, porquanto é preposição simples. Exemplos:
“Era uma afeição a que correspondia. - Não gostei da peça a que assisti. - Não examinou o programa do partido a que se filiou. - Parece falsa essa hipótese a que você tanto se apega. - É dura a tarefa a que me aplico agora.

3.5 Não se acentua um “a” sozinho que antecede palavra no plural (se houvesse artigo feminino plural, seria “as”, com “s”). Exemplos:
“Não respondo A perguntas tolas.” (Compare: “Respondeu As perguntas formuladas.”)
“Nossa liberdade está sempre sujeita A restrições.” (Compare: “Nossa liberdade está sujeita às restrições da lei.”)
“Não dava importância A glórias nem A honrarias.” (Compare: ..: às gló­rias nem às honrarias humanas.)

3.6 Não se acentua o a (que é artigo definido) que se segue a preposições (ante, após, com, conforme, contra, desde, durante, entre, mediante, para, peran­te, sob, sobre, segundo). Exemplos:
Sua atitude perante a autoridade policial foi bem diferente da que teve perante a Civil.  Não adianta remar contra a maré. - Protegeu-se sob a marquise. Fugiu ante a aproximação dele. - Após a prova, seus nervos rela­xaram. - Costumava ler passagens do Evangelho durante as refeições. - Esperava-o desde as 11 horas.
3.7 Não se acentua o a que precede substantivos femininos tomados em sentido geral, indeterminado, e que, portanto, repelem o artigo definido. Muitas vezes, por elegância de estilo, suprime-se o artigo indefinido uma que poderia figurar antes do substantivo feminino, frequentemente antecedido de adjetivo:
“Foi submetido a operação muito delicada.” (- A uma operação.)
“O Governo está procedendo a proveitosa desburocratização.” (= A uma proveitosa.)

3.8 Não se acentua o “a” antes de numerais cardinais: “De 15 a 20 deste mês.” - “De 1980 a 1982.”

IV Parte
4. Casos Especiais
4.1 A crase antes dos topônimos (nomes de lugar)
Os nomes próprios de lugar ora são determinados pelo artigo, ora não 0 admitem. Vejam-se estes exemplos:
a) Com artigo:
a América, a Europa, a África, a França, a Itália, a Argentina, o Peru, as Anti­lhas, as Filipinas, a China, o Japão; a Bahia, o Acre, o Pará; a Gávea, a Penha, o Leblon.
b) Sem artigo:
Portugal, Mônaco, Honduras, Cuba; Paris, Roma, Atenas; Alagoas, Sergipe, Minas Gerais; Curitiba, São Paulo, Brasília, Fortaleza, Natal; Copacabana, Ipanema.
Já sabemos que só é possível a crase da preposição a com outro a, artigo (ou demonstrativo). É evidente, portanto, que, neste caso, só poderá ocorrer crase se vier a preposição a seguida de um nome próprio de lugar feminino que admita o artigo a.
         E a forma prática de verificar essa possibilidade consiste em formular, com o topônimo que se está usando, outra frase com uma das preposições com, de, em, por, para. Se, nessa frase, aparecerem apenas as preposições, é sinal de que o nome de lugar em causa não admite o artigo, e portanto não haverá crase; se, porém, sur­girem as combinações ou contrações com a(s), da(s), na(s), pela(s), para a(s), é si­nal de que há preposição e artigo feminino: caso típico de crase, portanto. Exempli­fiquemos:

Imaginenos que a dúvida esteja na frase:
 “Quem tem boca vai ... Roma.” (a ou à?)
usando-se a preposição para teríamos:
“Quem tem boca vai PARA Roma.”
Com outras preposições: vir DE Roma, estar EM Roma, passar POR Roma.
Sem artigo, e portanto  não existe crase: a Roma.


Outro exemplo:
“Espero voltar .... Brasília este ano.” (a ou à?)
Fazendo-se uma substituição:
“Espero passar POR Brasília este ano.”
Com outras preposições: vir DE Brasília, estar EM Brasília, voltar PARA Brasília. Não se usou artigo, logo não há crase: a Brasília...

Mais um exemplo:
 “Você já foi .... Bahia?” (a ou à?)
Fazendo-se a substituição:
“Você já esteve NA Bahia?”
Com outras preposições: vir DABahia, passar PELABahia, voltar PARAABahia. Ocorrem as contrações: na, da, pela (preposição mais artigo). É, pois, o caso de crase: à Bahía.
E assim:
 “Tinha grande apego a Copacabana.” (Compare: “Tinha grande admira­ção POR Copacabana.”). Não há crase.
“O Papa regressou à Itália.” (= PARA AItália.). Hexiste crase.
“Chegaremos amanhã à Espanha.” (Compare: “Chegou ontem DA Espa­nha.”).    Hexiste crase.

Bem-vindo à Maringá? Não tem o acento grave.
Lembrete: Vim da: crase no "A".
Vim " de": crase para quê?
Portanto: Bem-vindo à Bahia (Vim da Bahia);
Bem-vindo a Maringá (Vim de Maringá).

Tenha sempre em vista, portanto, estas correspondências:
A corresponde a COM, DE, EM, POR, PARA;
A(S) corresponde a COM A(s), DA(S), NA(S), PELA(S), PARA A(S).

Observação: Cumpre lembrar que os mesmos nomes de lugar que normalmente não admitem artigo (como Roma, Paris, Brasília, Belém, por exemplo) passam a exigi-lo quando vêm seguidos de um adjunto limitador, especificativo:
a Roma do Coliseu;
a Paris do após-guerra;
a Brasília de Niemeyer;
a Belém das mangueiras.

Nesse caso haverá crase, quando precedidos da preposição a. Exemplos:
O navio chegou a Belém.
Não há crase. Existem as preposições, mas não aparecem os artigos. Compare: Vir DE Belém. Estar EM Belém. Passar POR Belém. Voltar PARA Belém.
   
O navio chegou à Belém das mangueiras.
Há crase, pois vem seguido de um adjunto limitador, especificativo.
Não sei quando voltarei a Brasília.
Não há crase. Existem as preposições, mas não aparecem os artigos. Compare: Vir DE Brasília. Estar EM Brasília. Passar POR Brasília. Voltar PARA Brasília.

Não sei quando voltarei à Brasília de Nierneyer.
Há crase, pois vem seguido de um adjunto limitador, especificativo.

Fizemos uma visita a Paris.
Não há crase. Existem as preposições, mas não aparecem os artigos. Compare: Vir DE Paris. Estar EM Paris. Passar POR Paris. Voltar PARA Paris.

Fizemos uma visita à Paris do após-guerra.
Há crase, pois vem seguido de um adjunto limitador, especificativo.


4.2 A crase antes da palavra CASA

A palavra casa é precedida de artigo quando significa “edifício”, “pré­dio”, “estabelecimento comercial”, “dinastia”, ou quando se refere a qualquer insti­tuição ou sociedade. Exemplos:
Mudou-se dA casa velha. - Passou pelA casa da mãe. - Trabalho nA Casa de Rui Barbosa. - D. Pedro II pertencia À Casa de Bragança.
Quando, porém, tem a acepção de “lar”, “morada”, e não vem acompanhada de algum termo restritivo ou modificador, a palavra casa não é antecedida de artigo. Exemplos:
Saí DE casa cedo- Ontem não dormi EM casa. – Volte logo PARA casa.   
É compreensível, pois, que, não sendo determinada pelo artigo a, a palavra casa, nesta significação, não admita crase:
“De regresso A casa, foi recebido em festa.”
“Fui a, casa apanhar os documentos do carro.”

Observação: Mesmo na acepção de “lar,” a palavra casa, quando seguida de um adjunto de posse, pode vir precedida de artigo:
Estive na (ou em) casa de João.
Disso resulta que, se vier da preposição a, a palavra casa, nesse caso, admite crase:
Irei à (ou a) casa de João.

4.3 A crase antes da palavra TERRA

A palavra terra, na maioria das suas acepções, pode vir precedida artigo a, que se craseia com a preposição a. Exemplos:
Voltou à terra onde nascera. - O agricultor tem apego à terra. - Do céu à terra.
Quando, porém, se opõe a bordo é indeterminada, sem artigo, e portanto não admite crase:
“Logo que o navio aportou, os marinheiros desceram a terra.”
“Está muito abafado a bordo: vamos a terra.”

4.4 A crase depois da locução prepositiva ATÉ  A

A preposição até possui como variante a locução até a, e o emprego de ambas, em muitos casos, é opinativo, ao gosto de cada um. Disso resulta que, quando seguidas dos artigos a, as, ou dos demonstrativos aquele (s), aquela, aquilo, pode ou não haver crase, conforme se use a forma simples até ou a locução até a:
“Leu o artigo até A (ou: até à) última frase.” [Compare: .... até o (ou: < Ao) último parágrafo.]
“Ficou no escritório até A (ou: até à) meia-noite.” [Compare: .... até o (ou até Ao) meio-dia.]
“Levou a questão até As (ou: até às) últimas conseqüências.” [Compa ... até os (ou: até Aos) últimos resultados.]
    “Chegue até aquela (ou: àquela) janela.” [Compare:.. . . até o (ou: até ao portão.]

Obsevação: Diferente é o caso de até com a significação de “mesmo”, “até mesmo,” não sendo, ne caso, preposição, não possui a variante até a, e então a ocorrência de crase não depende dessa palavra e sim de algum dos outros fatores que temos examinado:
“Estudava até as línguas da Índia antiga.” (Compare: Estudava até os dialetos ... )
“Obedecia até às ordens mais absurdas.” (Compare: ... até nos caprichos mais absurdos.)

CRASE COM NÚMEROS

Lombada a 100 metros ou Lombada à 100 metros? Ocorre crase antes de número?
A rigor não. A forma correta, no seu exemplo, é a primeira, porque o a que se encontra na frente do número é uma simples preposição.
O que pode ocorrer é você visualizar crase – correta – diante de um numeral em casos como estes:
“Li da página 1 à 10”. (Está se referindo à página, que é feminino. Entende-se “da página 1 à página 10”.)
Caminhou da rua Augusta à 7 de Setembro. (Está se referindo à rua, que é feminino. Entende-se “da rua Augusta à rua 7 de Setembro.)
Observação: Na verdade o a craseado se refere aí a um substantivo feminino subentendido, que não se repete por questão de estilo:
Li da página 1 à página 10.
Caminhou da rua Augusta à rua 7 de Setembro.

A palavra ‘crase’ vem do grego e quer dizer ‘fusão, mistura, união’; no caso, designa a fusão da preposição a com o artigo a - ou com o a inicial de aquela/ aquele/ aquilo. Portanto, só se usa à diante de palavras femininas que admitam o artigo definido feminino.

Além do fato de numeral cardinal não ter gênero (exceto um, dois e os terminados em -entos: uma, duas, duzentas etc.), ele não admite a anteposição de artigo. Conseqüentemente, nada de crase com números.
Vale lembrar que na frase “chegou às 10 horas” o às se refere ao subst. fem. horas, embora esteja imediatamente antes do numeral.

De 1 a 10 / de segunda a sexta / da 1ª à 4ª

Uma quadrinha simples torna mais fácil memorizar outro caso de crase que envolve números:
DO ou DA com À - crase há. Se vai DE - crase pra quê?
Este recurso se aplica tanto a números quanto a substantivos: quando se faz uso de dois desses elementos ligando-os por de + a, não se deve crasear o segundo elemento; mas quando se define o primeiro elemento com da ou do + a, o segundo inicia com à (ou ao, se masculino). É uma questão de coerência. Havendo determinação no 1º substantivo ou numeral ordinal, deve haver no segundo. O que não pode acontecer é a mistura, por exemplo: * de 2ª à 6ª (neste exemplo não ocorre crase).
Modelos bons:

- Trabalhamos dea sábado.   (de+a=crase pra quê?)
- A exposição ficará aberta ao público de hoje a domingo.   (de+a=crase pra quê?)
- Ainda há vagas para alunos dea 8ª série.   (de+a=crase pra quê?)
- Só sabe contar de 1 a 100.   (de+a=crase pra quê?)
- Os eletrodomésticos estão em todas as casas, de norte a sul do país.   (de+a=crase pra quê?)
- As inscrições poderão ser feitas de 1° de maio a 15 de junho.   (de+a=crase pra quê?)


- Todas as alunas daà 4ª série foram dispensadas.   (da+à=crase há)
- Molhou-se dos pés à cabeça.   (do+à=crase há)
- A ceia será servida da meia-noite à uma hora.   (da+à=crase há)


- Trabalho desta segunda à quinta-feira próxima.   (de+esta=desta+à=crase há)
- O jantar estava perfeito da entrada à sobremesa.   (de+esta=desta+à=crase há)
- Tudo subiu – da mensalidade escolar à consulta médica. (da+à=crase há)
- Aqui tudo é caro - do aparelho de som à geladeira.   (do+à=crase há)



V Parte
5. Breve Resumo Sobre Crase
5.1 Pode-se determinar a necessidade  de usar a crase, quando operamos da seguinte forma:
a) Substituímos a palavra feminina localizada após à por uma equivalente masculina.
b) Substituímos o “a” por “ao”. Caso a nova construção, admissível, comprova-se a necessidade do acento grave ( ` ) indicador de crase. Exemplo:
“Iremos à praia domingo.” Há crase? Não há? Para tirar a dúvida, basta seguir os passos acima:
“Iremos ao campo domingo.”  Como a nova oração está correta, percebemos que acontece a  crase. Logo, oração correta é “Iremos à praia domingo.”

5.2 Acontece a crase nos seguintes casos:

a) Antes de numerais que indicam horas (“Saiu às duas horas”).
b) Antes de locuções adverbiais, prepositivas ou conjuntivas femininas (à tarde, à direita, à toa, à revelia, às escondidas, às vezes, à proporção que etc.).
c) Quando as palavras “moda” ou “maneira” estiverem subentendidas (“Pediu um filé à Oswaldo Ara­nha”).

5.3 Não acontece crase nos seguintes casos:
a) Diante de palavras masculinas (“Passeio a cavalo”).
b) Diante de verbos (“Ficou a ver navios-).
c) Antes da maior parte dos pronomes.
d) Antes de palavras femininas no plural (“Referiu­-se a cronistas de moda”).
e) Nas expressões pareadas (uma a uma, par a par, pouco a pouco etc.).
f) Antes de numerais em que a preposição “a” signifi­ca até (“De hoje a 5 de março”).
g) Entre números. João contou de 100 a 300 tijólos.

5.4 Casos em que a crase é facultativa:
a) Diante de nomes próprios femininos.
b) Depois da preposição “até”.
c) Antes de pronomes possessivos femininos (minha, tua, sua, nossa, vossa)
Voltei este ano à (ou a) minha terra.      
Prestava atenção à (ou a) sua voz.

5.5 Casos Especiais:
Além dos casos enumerados, vale atentar para as pa­lavras “casa”, “terra”
a) Casa: indeterminada, não há crase (“Retomo sem­pre tarde a casa”);
determinada, acontece crase (“Vou à casa de minha mãe’).

b) Terra: Não craseamos quando estiver em oposi­ção a “estar a bordo”
(“Os marinheiros regressaram a terra firme”). Nos demais casos, acontece a crase.















































Nenhum comentário:

Postar um comentário